terça-feira, maio 30, 2006

Receber de quem não tem















Faz por esta altura um ano que tive a minha primeira experiência de apoio de rua aos sem abrigo. A oportunidade surgiu em jeito de convite por parte de alguém que me conhecia e sabia a partida que este era o tipo de actividade que me faria vibrar, o que de facto se veio a confirmar.
Juntei-me então a uma CVX (Comunidade de Vida Cristã) do CREU-Il (Centro de Reflexão e Encontro Universitário Inácio de Loyola), que um domingo por mês se junta para fazer a ronda dos sem abrigo do Porto distribuindo pequenos sacos com pão, fruta, água , a parte o aconchegante copinho de leite quente e agasalhos.
Caí naquele grupo literalmente de pára-quedas, sem conhecer quase ninguém, sem nunca ter feito nada tão arrojado, mas estava mesmo entusiasmada e ansiosa, queria mesmo ver de perto como era lidar com eles, que tipo de pessoas iria encontrar…
Quando me fui encontrar com eles já era tarde da noite, o grupinho do Centro Universitário, era de pessoas bem dispostas e calorosas e puseram-me logo a vontade. Encontrei alguns a aquecer o leite, outros a porem os saquinhos com comida na carrinha. Em gestos de simplicidade destes é fácil perceber como tudo se torna mais agradável quando há um sentido de partilha e serviço que é comum a todos os membros do grupo.
Partimos finalmente para uma noite feliz.
A viagem era animada, o trajecto pelo que percebi era o mesmo de sempre. E comecei aos poucos a perceber a dinâmica do grupo.
A primeira paragem lembro-me, foi num viaduto, não posso precisar em que zona, era tarde e também não sou uma grande conhecedora da cidade.
Como era só uma pessoa não saiam todos. Eu saí, queria ver, perceber como se fazia. Fui então discretamente, meia escondida atrás de quem sabia.
Era um senhor ,estava debaixo de uns cobertores, deitado, parecia estar a dormir, mas despertou ao ouvir a voz do rapaz que seguia a minha frente, devia ter pouco mais que 50 anos, não parecia doente e falou bem connosco, aceitou o que trazíamos, gracejou quanto a agua, segundo ele fazia-lhe mal, já não estava habituado. Contou-nos a sua história, pelo menos a parte que nos deixava mais curiosos, trabalhava como sapateiro e ganhava um ordenado mínimo, não resisti a perguntar, parecia não fazer sentido o discurso. Sem o mínimo embaraço explicou que o que ganhava não era muito e o vício tinha de ser mantido, tinha de comprar álcool…Senti um baque no coração, como se um novo mundo se estivesse ali a descobrir à minha frente. A cada pergunta surgia uma resposta ainda mais confirmatória.
-Mas o que ganha não da para um quartinho? – perguntei, tinha de perceber.
Sim, afinal chegava, mas o vicio…
Da tanta vontade de explicar, de ajudar, de perceber que história de vida estará por detrás de escolhas assim…viver na rua por opção… Mas seria uma opção? Se calhar não, o vício é uma doença…ou não?
Continuamos a viagem, íamos partilhando ideias, dúvidas, mas sempre com muita alegria, uma alegria que nem percebia bem de onde vinha, mas estava muito presente.
As vezes parávamos em locais onde estavam grupos maiores. Na sua maioria são simpáticos, conversadores e animados e assim torna-se mesmo divertido, entre uma piada e outra vamos fazendo perguntas sobre a vida, uns respondem bem outros fogem delicadamente ao assunto e percebemos então que aquela história ficará para uma outra oportunidade.
Podia contar todos os diálogos que tive nessa noite, tenho-os na minha memoria, todos como pequenos tesouros que fui colhendo e saboreando nos dias, nos meses seguintes…
E agora percebo que naquela noite dei muito pouco em troca destas memórias daqueles encontros, pois cada um deles foi uma oportunidade de amar mais, de servir mais…E essa riqueza ficou comigo, cá dentro.
Se em cada um daqueles rostos conseguirmos ver mais do que alguém carenciado, uma vida que naquele momento nos oferece uma oportunidade única de amar…Então iremos receber a consolação única de perceber com o coração o que é receber de quem aos olhos do mundo nada tem para oferecer.

Porque sonhaste (Xavier)...


Tu,que me enches o coração de esperança
e me fazes crer que o céu está ao alcance da vontade.

Tu,que deste a vida por um sorriso
e me fazes meditar a minha liberdade

Tu,que te deixas-te guiar sem medo...
sem amarras...

E foste grande porque sonhaste,
porque mais que teu, foste d´Ele
e mais que teme-Lo, confiaste...

segunda-feira, maio 29, 2006

MudasTE o meu ideal





















Lembro-me da minha infância, do sopro de vida que me trouxe até aqui…E vou sabendo ler de novo essa história, à luz de um amor que ilumina muito para além do que antes via. E na claridade desse amor que não se impõe mas que aconchega, vou percebo, o que Foste fazendo em mim Senhor.

Lembro-me de procurar, de desde muito cedinho sentir uma inquietude que me levava por caminhos que nem sempre entendia e procurava sem saber bem o quê, sem saber bem quem, mas nunca fui de estar parada.
Experimentei mil e um estilos diferentes de danças, cantei músicas muito variadas, aprendi a tocar, representei, experimentei diferentes desportos, sempre a procura de alguma coisa. Sonhei com profissões mil, e agora quando me tento lembrar, perco-lhes a conta.
E a procura não parava, ao sabor do tempo que caprichosamente ia passando umas vezes mais lento, outras a correr, a procura ia continuando.
Aconteceu, mais que uma vez, por momentos parecer que realmente, finalmente teria encontrado algo que satisfizesse aquela ânsia tão entranhada, tão diferente, tão sem nome, mas mais tarde ou mais cedo acabava sempre por perceber que não passavam de “falsos alarmes” que quase me acalmavam o coração por breves instantes.
Fui crescendo, e a medida que vamos crescendo o mundo vai-nos pedindo explicações, nos próprios aprendemos com o mundo a exigir-nos explicações. E fui tentando perceber…Não foi difícil, fui concebendo uma teoria que explicasse, mais a mim que ao mundo, aquelas minhas “xtranhezas”. Até que conclui: procurava simplesmente algo em que me sentisse a melhor, segura de mim, superior, não era isso que todos procuravam? algo em que fossem realmente bons por excelência? Eu (pensava eu) não fugia a regra…
Nunca me saí muito mal em tudo o que fui experimentando, a verdade é essa, e tenho facilidade em gostar, o que ia tornando tudo ainda mais confuso e durante muito tempo esta teoria encaixou na perfeição. E era tão natural que com um objectivo pobre como esse a minha satisfação nunca fosse completa. Sim, porque é pobre de espírito e de coração querer assim, superar os outros e principalmente fazer disso a ambição dos nossos dias.
Mais tarde percebi então, sem lhe dar ainda este nome…Que
de nada me valia ganhar o mundo inteiro, se não encontrasse e cuidasse a minha alma, o meu coração…
Falaram-me de um Santo, que tinha sido “homem
como eu”, que tinha procurado como eu, que se tinha iludido como eu…
Até que finalmente…

E daí a perceber o que iria consolar o meu coração inquieto foi um passe de mágica.
Percebi então, à luz daquele amor que me deixa abrir os braços e rodar, rodar… até cair numa confiança sem limites, sem fundo, sem tecto…Que Fui feita para amar, que a minha excelência seria de coração e que só seria grande ao deixar-me amar assim…pequenina.



“Amar, eu quero aprender amar,
porque eu nasci p´ra amar.
Ao dar-me o Teu sopro Divino marcaste o meu ideal.
Amar eu quero aprender Amar, porque eu nasci p´ra Amar.
Para saber que estou vivo
e que há algo Teu que sei dar, o AMOR…”

domingo, maio 21, 2006

Mensagem de Amor















"Os Livros na estante já não tem mais tanta importância

Do muito que li, do pouco que eu sei, nada me resta

A não ser, a vontade de te encontrar

O motivo eu já nem sei,

nem que seja só para estar, ao seu lado,

Só pra ler, no seu rosto

Uma mensagem de Amor

Uma mensagem de Amor

A noite eu me deito, então escuto a mensagem do ar

Vagando entre os astros, nada me move nem me faz parar

A não ser, a vontade de te encontrar

O motivo eu já nem sei, nem que seja só para estar ao seu lado,

Só pra ler no seu rosto

Uma mensagem de Amor"

Lucas Santana

Quando a experiência do "deserto" nos faz cair na conta da nossa fraqueza, inutilidade e debilidade total...resta-nos uma única esperança...e então procuramos no Teu rosto a única mensagem possível, a de Amor.