Olhos postos em Deus

Ontem, domingo, fui a Eucaristia com a minha família a um sítio diferente e ouvi das homilias mais bonitas a que já assisti. O Padre, que mais tarde vim a conhecer como Padre Francisco, era um Senhor já de idade, com a voz arrastada pelo peso dos anos e com um ar doce, de um amor que se percebia claramente em cada gesto. Falou, e soava como se estivesse a ler um livro em voz alta, o discurso era tão bem estruturado, fazia tanto sentido e vinha tão de dentro. Fiquei maravilhada e por entre a multidão tentava ver todos os seus gestos ao mesmo tempo que o ouvia com atenção. “Aquele que faz o bem com os olhos postos no mundo é néscio. Os critérios de Deus e do Homem são diferentes, o Homem vê apenas à sua volta e Deus vê do íntimo de cada um e mais além. A verdadeira sabedoria vem de Deus.” Como era possível tanta alegria, tanto amor num corpo que já devia ter efectuado aquele rito vezes e vezes sem conta. Cinquenta anos ali, no mesmo sitio, a fazer as mesmas coisas… Estava fascinada e decidi, tinha de, no fim, ir agradecer aquele momento, ele precisava saber o bem que fazia as pessoas. A Eucaristia terminou e dirigi-me apressada a sacristia, no meio da multidão lá estava, sereno. Disse de onde vinha e como me sentia agradecida pelas suas palavras. Pegou-me nas mãos e percebi, mais de perto foi mais fácil perceber que aquele Senhor não é daqui. Disse que não era a ele que deveria agradecer, mas ao Espírito Santo que o conduzia, falou mais um pouco da linha da homilia e terminou… “Se a menina tivesse anéis, fios ou brincos eu dir-lhe-ia que há-de chegar o momento em que vai partir e nada disso será necessário, sem nada que a adorne levará apenas nas mãos a marca do bem que cá fez. Por isso faça todo o bem possível, com os olhos postos em Deus.” Então despedi-me, com a certeza de que voltaria…